CONEXÃO LISO

Por Pedrinho Hallal

As chances do RS no Brasileiro

Não adianta! Mesmo que o RS não vá a Recife na condição de zebra, ainda estamos longe de sermos favoritos ao título da primeira divisão, ainda mais com a confirmação da ausência de Roberto Moreira. Antes que eu seja mal interpretado, acredito que o primeiro passo para chegarmos lá seja admitir que ainda temos muito a melhorar. Foi com esse espírito que Alex Degani conquistou o título estadual de 2011. É com esse espírito que a delegação gaúcha deve jogar em Recife. Ainda somos inferiores aos baianos, mas estamos diminuindo a diferença a cada dia.

Para explicar meu ponto de vista convido os leitores a pensarem comigo. Se o campeonato fosse todos contra todos, em pontos corridos, teríamos alguma chance? Atrevo-me a dizer que qualquer botonista gaúcho entre os quatro melhores seria uma grande zebra. No longo prazo, ainda precisamos de muita vitamina para chegar ao nível dos baianos.

Felizmente para nós, o campeonato brasileiro não é disputado no sistema de todos contra todos. Para ganhar o brasileiro, é preciso ser MACHO na hora decisiva, uma hora que muitos dos nossos botonistas conhecem muito bem. Mas quem são os candidatos?

Apesar da má fase, ainda acho que o nosso melhor botonista de liso é Marcelo Vinhas. Ele esteve muito perto e, portanto, já sabe como lidar com a pressão das horas decisivas. O grande problema para ele é chegar lá perto das finais do jeito que vem jogando. Se conquistar o título interno da Academia no final de semana talvez consiga recuperar a confiança. Depois dele temos quatro botonistas com as mesmas chances, em minha opinião: Mateus Pierobom, Alex Degani, Daniel Maciel e Mário Cachaça. 

Mateus é o mais “espetaculoso” dos quatro, chega até a lembrar o Gothe nos cavados. Busca o ataque o tempo todo, joga com cinco levantadores, corta como ninguém. No entanto, preciso arrumar a defesa se quiser chegar ao título. Já foi terceiro colocado no brasileiro de lisos, o que lhe dá certa experiência em lidar com a pressão das horas decisivas. Alex Degani é o oposto de Mateus; sobra competitividade, sobra vontade, mas ainda pode faltar experiência. Não entendam mal: pode faltar experiência no jogo de liso, mas não em jogar partidas decisivas. Nesse quesito o colecionador de lenços está muito bem servido.

Os polenteiros são sempre uma incógnita. Esse é o ano deles, ambos já conquistaram títulos importantes. Sem o CHEFE na chave, Maciel aumenta muito suas chances. Já o Mário, só torce para não pegar o Maciel. O Mário ganhar do Maciel é quase tão provável quanto o Rafa Tosh ganhar do Diógenes (de liso).

É claro que temos outros botonistas competitivos. Rodrigo, Róbson e Augusto são alguns exemplos. No entanto, acredito que esses brigam para chegar entre os oito, o que já seria um feito e tanto, equivalente ao João Garima ser semifinalista da Taça RS. Claro que a ausência de Hamilton e CHEFE, ambos na categoria sênior, aumenta um pouco as chances dos outros nesse ano.  

No barro, o único perigo para o RS é o Victor. Fora ele, todos os candidatos representam as cores do RS. E convenhamos, se o Victor for campeão, o RS saberá que a hegemonia está mantida. Cristian e Sílvio são os meus favoritos, pois sinceramente, se o Duda levar mais esse, será um ano praticamente inédito na história do futebol de mesa; ele está ganhando tudo.

Quando esse texto estava quase pronto, recebi um e-mail aterrorizante. Parecia tentativa de cavada do Cristian Costa; a gente sabe que não vai dar certo, mas fica preocupado do mesmo jeito. Querem votar no brasileiro algumas mudanças de regra. Antes que vocês se surpreendam, repetirei com calma o que eu já escrevi: faltando 10 dias para o campeonato brasileiro, algumas pessoas estão propondo votar mudanças drásticas na regra do jogo.

Maluquices do tipo: “o jogo terá dois tempos de 20 minutos”, “saindo rolando ou não, será sempre dois toques se não bater em nenhum botão”, “o jogador é obrigado a jogar na categoria de idade que corresponde a sua idade atual”. Vamos com calma então:

1.      O jogo terá dois tempos de 20 minutos.

Apesar de a emissora Band News repetir incansavelmente de que “em 20 minutos tudo pode mudar”, não vejo qualquer sentido nessa proposta. Vocês já imaginaram mudar a duração de jogo de futebol de 45 para 35 minutos para cada lado. A mudança proposta, em termos proporcionais, é equivalente a isso.

VANTAGENS: Campeonatos mais curtos, com mais espaço entre os jogos.

DESVANTAGENS: Menos gols, menos emoção.

CONCLUSÃO: Quem não sabe organizar campeonato tem que aprender a organiza campeonato, e não tentar colocar a culpa no tempo de jogo.

2.      Botou direto para fora no campo de defesa é dois toques, independente de rolar ou não

VANTAGENS: Aumenta as chances de um jogador ruim ou mediano (tipo Pedrinho) ganhar de um craque (tipo Alexandre Prezzi).

DESVANTAGENS: O jogo pode ser decidido na sorte, e não na técnica. Vários jogadores vão jogar com mais cavadores. Vários jogadores vão baixar muito o grau dos botões. 

CONCLUSÃO: Quem não sabe jogar, que vá treina, e não mudar a regra para tentar ganhar na sorte.

3.      Tocou no próprio goleiro sem tocar na bolinha é falta técnica

VANTAGENS: Menos chance para recuar defensores, especialmente no liso.

DESVANTAGENS: Apesar de parecer inofensiva, a mudança proposta muda a concepção do jogo. Na regra atual, o botonista é punido com falta técnica quando comete um erro técnico. Nessa caso, a falta técnica teria uma concepção completamente diferente.

CONCLUSÃO: O jogo de liso não precisa de adaptações. Ninguém está fazendo retranca no liso. Qual o benefício dessa mudança?

4.      O botonista é obrigado a jogar na sua categoria de idade

VANTAGENS: Alguém deve estar pensando no seu caso próprio para propor isso. Não tem como ver vantagens nisso.

DESVANTAGENS: Fere alguns princípios básicos da constituição brasileira. Difere do que acontece em todos os outros esportes.

CONCLUSÃO: Se alguém precisa disso para ser campeão de algo, sugiro criar uma categoria para botonistas nascidos em cada ano, mês e dia, assim todos competem sozinhos e todos saem campeões.

5.      O goleiro tem que jogar em pé o tempo todo

VANTAGENS: Pode aumentar discretamente a quantidade de gols.

DESVANTAGENS: Não foi testado.

CONCLUSÃO: É a proposta “menos ruim”. Precisa ser testada por 12 meses em torneios experimentais e menores para ser discutida na Assembleia do Brasileiro do ano que vem.

Enfim, como já escrevi no passado, um esporte cresce quando sua regra é mantida por um período longo de tempo, de forma que as pessoas aprendam a regra. O jogo de futebol de mesa, na regra brasileira, está ótimo. Mudanças na regra só trarão prejuízos. Espero que os responsáveis pela proposta reflitam!